Água no Aquarismo: Mitos, Riscos e Boas Práticas

📄 38 páginas 👁️ 2236 visualizações ⏱️ 89 min 📅 19/08/2025 ✍️ Mr. Sereno
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  • GH (Dureza Geral) – Indica a soma de íons de cálcio e magnésio na água. Por que é importante? Porque peixes dependem de certos níveis de minerais para osso, osmorregulação e reprodução, e plantas e invertebrados (como camarões e caramujos) para crescer exoesqueletos e conchas saudáveis. GH alto (água dura) beneficia espécies como lebistes, espadas, ciclídeos africanos e fornece cálcio abundante para caramujos, porém pode ser estressante para peixes de água mole (tetras, rasboras) habituados a baixa condutividade. GH baixo (água mole) é preferido por peixes amazônicos e certos camarões, mas se for perto de zero pode causar deficiência de cálcio (peixes letárgicos, cores apagadas; camarões com dificuldades na muda; plantas com folhas deformadas). Quando medir? Em um aquário estabelecido, GH não varia rapidamente, então teste mensalmente ou ao perceber sinais como conchas de caramujo desgastando (sinal de GH baixo) ou acúmulo de depósitos calcários (GH alto). Sempre meça GH da água nova antes de trocas se estiver usando fontes diferentes (ex.: mistura de RO e torneira) para garantir consistência. Após intervenções (como adicionar sal reconstituidor ou inserir rochas calcárias), monitore semanalmente no início. O que fazer com o resultado? Mantê-lo dentro da faixa ideal para seus habitantes (ver Cap. 7). Se GH estiver baixo demais, adicione sais de GH (sulfato de cálcio, de magnésio, ou produtos prontos) gradualmente – nunca aumente bruscamente muitos °dH de uma vez. Se GH estiver alto demais para peixes de água mole, planeje reduções via trocas com água mais mole (RO ou mineral leve). GH é uma medida geral – se está alto mas você observa problemas de carência (e KH está normal), pode ser caso de desbalanço Ca:Mg (água com muito Mg e pouco Ca, por ex.). Nesse caso, um teste específico de cálcio pode ajudar ou simplesmente adicionar um suplemento rico em cálcio (gesso) e ver se há melhora nos sintomas.

  • KH (Dureza de Carbonatos/Alcalinidade) – Mede a quantidade de carbonatos e bicarbonatos, que atuam como tampão de pH. Por que importa? Porque KH é a “estabilidade do pH” em números. Com KH adequado (4–8 °dKH para maioria dos comunitários), o pH do aquário tende a permanecer estável, resistindo a oscilações causadas por ácidos (como os húmicos de troncos ou o CO₂ injetado). KH muito baixo (0–1 °dKH) significa pouquíssimo tampão – o pH pode despencar rapidamente se acumular ácido (risco de pH crash, que mata bactérias nitrificantes e pode matar peixes). KH alto (>12 °dKH) faz o pH ficar teimosamente alcalino e dificulta abaixá-lo mesmo quando desejado (por isso aquários plantados com CO₂ preferem KH moderado, ~4–6 °dKH). Quando medir? Semanalmente no início, pois KH pode ser consumido por ácidos no período de ciclagem ou montagem (especialmente se muita matéria orgânica estiver se decompondo). Em tanques maduros, medir mensalmente é prudente, já que KH tende a diminuir lentamente (ácidos nítrico e outros produzidos no filtro consomem bicarbonato). Se você injeta CO₂ pressurizado, monitore KH quinzenalmente – uma queda pode sinalizar que o sistema tampão está se esgotando e um crash pode ocorrer. Após grandes trocas ou uso de produtos químicos (pH Down, por ex.), cheque KH e pH no dia seguinte para ver se não alterou demais. O que fazer com o resultado? Se KH < 2 °dKH em um aquário não intencionalmente ácido, convém subir para pelo menos 3–4 °dKH para evitar oscilações. Aumenta-se KH facilmente adicionando bicarbonato de sódio (NaHCO₃): ~3 g (meia colher de chá) em 50 L aumenta cerca de 2 °dKH. Faça ajustes lentos (no máximo 2 °dKH por dia). Se KH estiver alto demais e você precisa pH mais baixo (ex.: criar Neons cardinais), a saída é água mais mole (mistura com RO ou destilada) – não há “removedor de KH” químico seguro, a diluição é o caminho. Plantados high-tech podem operar com KH 0–1, mas é território avançado – requece monitoramento constante de pH e CO₂.

  • pH (Potencial Hidrogeniônico) – Mede acidez/alcalinidade, escala logarítmica 0–14. Por que é crítico? Peixes e outros organismos aquáticos têm faixas de pH nas quais conseguem regular o equilíbrio osmótico e respiratório de forma otimizada. Fora dessas faixas, podem ocorrer estresse, dificuldade de respirar (pH afeta forma do amônio/amônia e a toxicidade do NH₃ aumenta em pH alto), e choque osmótico. pH também influencia a química: por exemplo, pH baixo (<6) pode inibir a nitrificação (bactérias do filtro trabalham pior), pH alto (>8,5) pode precipitar nutrientes e oligoelementos (ferro precipita e falta para plantas). Em resumo, manter pH dentro de certo intervalo garante que tanto a biologia quanto a química do aquário funcionem bem. Quando medir? Idealmente semanalmente, ou até diariamente em aquários com injeção de CO₂ (nesses, medições contínuas via controlador ou drop checker são rotina). Em comunitários estáveis, testar pH a cada 2 semanas é suficiente, já que se o KH estiver estável, o pH pouco muda – mas é bom checar para ver tendência (pH baixando ao longo dos meses = KH sendo consumido, por exemplo). Sempre meça pH em duas situações: antes de uma TPA e após a TPA (para verificar se não houve mudança brusca com a água nova). Também teste de manhã cedo e à noite em aquários plantados: o pH oscila diurnamente com o ciclo de fotossíntese (pode variar ~0,2–0,5). O que fazer com o resultado? Se o pH estiver dentro do esperado para seu setup, apenas registre. Se estiver fora, primeiro verifique KH – um pH discrepante pode indicar KH inadequado (ex.: pH caiu muito -> KH zerou; pH teimosamente alto -> KH muito alto ou algo alcalinizando, como rochas calcárias). Para ajustar pH: faça isso gradualmente. Evite químicos de ajuste instantâneo tipo “pH Down” a não ser em emergências, pois causam flutuações abruptas. Prefira métodos naturais: para baixar pH, reduza KH via água mole, injete CO₂ em plantados, ou adicione taninos (folhas, troncos) que acidificam lentamente. Para subir pH, aumente KH com bicarbonato ou utilize rochas calcárias/coral morto no filtro (libera carbonatos lentamente). Mudanças de no máximo 0,3–0,5 de pH por dia são recomendadas para segurança dos peixes. E lembre: a maioria dos peixes de aquário se adapta a pH um pouco fora do ideal se estável, mas não tolera variações rápidas. Então estabilidade é mais importante que atingir um número exato.

  • Amônia/Amônio (NH₃/NH₄⁺) – Resultado da decomposição de resíduos proteicos, excreção dos peixes, etc. Em água, existe em equilíbrio: forma tóxica NH₃ (amônia livre) e forma ionizada NH₄⁺ (amônio) menos tóxica. O equilíbrio depende do pH: pH alto favorece NH₃. Por que medir? Porque NH₃ é extremamente tóxico, causando queima das brânquias e asfixia nos peixes, mesmo em concentrações de 0,2–0,5 ppm. Em pH ácido (<7), a maioria estará como NH₄⁺, menos perigoso, mas ainda assim indicativo de problema se detectável. Num aquário devidamente ciclado, amônia deve ser 0 ppm o tempo todo – qualquer leitura >0 sugere falha do filtro biológico ou excesso súbito de carga (peixe morto, sobrealimentação) que precisa de ação imediata. Quando medir? Durante a ciclagem inicial do aquário, meça diariamente ou a cada 2 dias para acompanhar a formação do biofiltro. Após o aquário maduro, normalmente não é preciso medir rotineiramente se tudo está bem e não há mudanças. Porém, convém medir amônia em situações como: logo após adicionar muitos peixes de uma vez (para ver se o filtro aguentou), após uso de medicamento forte que pode ter afetado bactérias, se notar peixe ofegante na superfície sem razão aparente, ou se houver odor de amônia. Outro momento: logo pela manhã em aquário plantado com injeção de CO₂ e pH baixo – bactérias nitrificantes podem reduzir atividade à noite, uma pequena acumulação temporária de amônio pode ocorrer (geralmente não chega a níveis detectáveis, mas se houver algum desequilíbrio, pode). Em suma, não precisa medir sempre, mas tenha testes à mão para “check-ups” quando algo parece errado. O que fazer se detectar amônia? Mesmo que em forma de amônio (você pode usar tabelas que correlacionam NH₃/NH₄ com pH e temperatura para ver quanto é tóxico), a melhor resposta é ação imediata: realizar grande TPA (50% ou mais) para diluir, adicionar condicionador de água que detoxifique amônia (por ex. produtos à base de sodium hydrosulfite ou conditioners que citam remover amônia), e verificar a causa. Cheque se a mídia biológica do filtro está limpa (mas não superlavada em água clorada, claro), veja se algum peixe morreu e está se decompondo oculto, teste nitrito também (normalmente se amônia aparece, nitrito vem junto). Garanta alta aeração (amônia é mais tóxica quando O₂ é baixo e pH alto). Recheque amônia nas horas seguintes – se ainda alta, continue trocas de água até estar <0,2 ppm no teste (preferencialmente 0). Um truque: se o pH do aquário for alto (>7,5) e há amônia, reduzir o pH temporariamente para ~6,8–7,0 com acidificante pode converter a maior parte em NH₄⁺ menos tóxico, ganhando tempo para tratar – mas essa manobra exige cuidado para não acidificar demais e depois rebasificar rapidamente. Em geral, detecção de amônia é grave – trate como emergência.

  • Nitrito (NO₂⁻) – Intermediário da nitrificação, também tóxico (interfere no transporte de oxigênio no sangue dos peixes, causando “doença do sangue marrom”). Deve estar zerado em aquário ciclado. Quando medir? Assim como amônia, medir diariamente/bi-dariamente na ciclagem inicial até zerar. Depois, não deve aparecer – exceto nos mesmos cenários de falha citados para amônia. Um caso comum: filtro desligado por muitas horas (falta de energia); as bactérias podem ter morrido e ao religar, pico de nitrito ocorre. Ou após tratar o aquário com algum antibiótico forte. Se você tem kit, sempre bom medir nitrito junto com amônia quando suspeitar de problemas no ciclo. O que fazer se nitrito >0? Ação semelhante à amônia: trocas de água urgentes e adição de sal comum (NaCl) na dosagem de ~1 g/L (0,1%) – o cloreto competirá com o nitrito na absorção pelas brânquias, aliviando a intoxicação. Peixes com nitrito alto ficam ofegantes e com coloração marrom nas guelras (por isso o termo brown blood disease). Manter sal até nitrito zerar e depois remover gradualmente via TPAs. Em filtros pequenos, às vezes após picos de nitrito, adicionar bactérias de frasco pode ajudar a restabelecer o ciclo mais rápido.

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Como escolher a melhor fonte de água, ler rótulos e controlar parâmetros para aquários estáveis

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