Almoço com vista para o infinito

Almoço com vista para o infinito

Em Viña del Mar, o almoço no Castillo del Mar vai além da gastronomia. É um instante em que a paisagem, a mesa e as pessoas se encontram para criar uma memória que alimenta mais que o corpo: alimenta a alma.

Depois do colorido caótico de Valparaíso, Viña del Mar parecia sussurrar. Não gritava murais, não empilhava ladeiras — apenas oferecia. E o que ofereceu, naquele meio-dia, foi um convite irrecusável: almoçar em um castelo à beira-mar.

O guia anunciou e ninguém respondeu de imediato. Só a fome, o silêncio e aquele tipo de encantamento que a beleza provoca quando chega junto do apetite.

Um castelo com cheiro de sal

Seguimos de van margeando o Pacífico. À esquerda, o mar. À frente, o Castillo del Mar. Descemos como quem troca de capítulo. E o novo capítulo tinha fachada de pedra, brisa salgada e promessas na brisa.

Já foi clube árabe, hoje é restaurante. Mas para nós, era palco. E nós, os convidados.

Entramos. Salão claro, janelas abertas, marulhos chegando junto com os guardanapos dobrados. Sentamos perto da janela sem discutir. Estava claro: aquele seria um bom momento.

Mais que refeição: ritual

Vieram frutos do mar para compartilhar — lulas empanadas, camarões ao alho, bolinhos dourados, conchas gratinadas e um polvo grelhado que parecia ter sido esculpido pelo próprio mar.

Ao lado, um pisco sour cítrico e poético.

O garçom virou personagem. A vista, coadjuvante de luxo. Rimos alto, falamos de sotaques, casacos e gorjetas. Deixamos o prato acabar, mas não o momento.

Entre mariscos e memória

Atravessamos a rua. Do outro lado, pedras negras, sol de inverno e pelicanos nos observando. Pensamos em descer até as rochas — não descemos. Mas bastou estar ali, de cima, para sentir o essencial: pequenez boa. Inteireza rara.

Olhei para o céu e ele estava azul demais. Um grupo de pássaros cruzou o horizonte. Foram trinta segundos de voo. Trinta segundos de eternidade.

E ainda tinha sobremesa: o humano

O guia e o motorista resolveram alguma coisa. Enquanto esperávamos, rimos. Conversamos com estranhos que pareceram velhos conhecidos por alguns minutos. Trocaram-se histórias, sotaques, até alfajores.

Voltamos à van com o corpo leve. O silêncio lá dentro não era cansaço. Era digestão — do almoço, claro, mas também da experiência.

Alguns cochilavam. Outros olhavam o celular. Eu olhava pela janela, tentando guardar tudo do lado de dentro.

Quando a mesa vira memória

Almoçamos no mar, no castelo, à beira-mar, em Viña del Mar. Se isso não pede poesia, nada mais pede.

Nem tudo precisa ser prático. Nem tudo precisa ser lógico. Às vezes, só precisa ser bonito. Precisa ser inteiro.

Então, quando a viagem te oferecer uma mesa assim, aceite.

Sente perto da janela. Peça algo que nunca comeu. Brinde com quem estiver ao seu lado. Converse com desconhecidos. Tire a foto. Atravessa a rua. Olhe para o céu.

Porque alguns momentos não foram feitos para durar — foram feitos para ser lembrados.

Com fome, com sal e com saudade.

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