Água no Aquarismo: Mitos, Riscos e Boas Práticas

📄 38 páginas 👁️ 2067 visualizações ⏱️ 89 min 📅 19/08/2025 ✍️ Mr. Sereno

Impactos no aquário (fauna, flora e pH): O cloro, como dito, ataca diretamente brânquias e mucosas dos peixes (queimaduras químicas) e pode devastar colônias de filtro biológico. A cloramina, além desses efeitos, ao ser neutralizada libera amônia – que pode intoxicar peixes se não for imediatamente convertida pelo biofiltro. Por isso, ao usar água da rede, SEMPRE adicione condicionador que trate também cloraminas (produtos que “detoxificam” amônia temporariamente são ideais para esse fim). Quanto aos parâmetros, a dureza e o pH da torneira influenciam diretamente a estabilidade do aquário: uma água de KH alto (>10 °dH) tende a manter pH alcalino estável, o que é bom para ciclídeos africanos mas pode inviabilizar um aquário de discos ou de plantas com CO₂ (que preferem pH ácido). Já água de KH quase zero pode sofrer quedas de pH (ácidos se acumulam e não há tamponamento) – caso comum em regiões de água mole. Aquários com muita matéria orgânica podem acidificar ao longo do tempo; se o KH da torneira for baixo, é preciso redobrar a atenção para evitar crash de pH. Plantas aquáticas também respondem: certas espécies delicadas apresentam deficiências se a água for muito mole (carecem de cálcio/magnésio) ou, inversamente, travam o crescimento se a água for extremamente dura e alcalina (que dificulta a absorção de nutrientes como ferro). Já as algas adoram nitrato e fosfato – se sua água de torneira já fornece essas “comidas”, o controle de algas requer manejo extra. Flora e fauna aquática, portanto, sofrem impactos cumulativos da química da torneira: é essencial conhecer e condicionar.

Exemplo prático (100 L, TPA 20%/semana): Considere o mesmo aquário de 100 L, sem plantas, realizando trocas de 20% semanais, mas agora usando água da torneira com 5 mg/L de nitrato e 1,5 mg/L de cloramina. Imediatamente, deve-se adicionar condicionador ao novo volume para neutralizar o cloro/cloramina – isso converterá a cloramina em amônia menos tóxica, que o filtro biológico precisará remover. Cada troca adiciona ~1 mg/L de nitrato (20% de 5 mg/L) só da água de reposição. Assim, mesmo se o aquário estivesse zerado antes, após a TPA ele fica com ~1 ppm, e os peixes adicionam mais durante a semana. O equilíbrio final de nitratos tenderá a um patamar mais alto do que no caso da água isenta. Conforme calculado no capítulo anterior, sem plantas, os nitratos poderiam estabilizar em ~25–30 ppm – porém agora o piso já começa em 5 ppm: espere valores de 30–35 ppm a longo prazo, tudo igual. Esse exemplo ilustra que a torneira pode ser “vilã” ao repor continuamente certo nível de nitrato que o aquário nunca consegue baixar, a menos que medidas extras sejam tomadas (mais plantas, resinas removedoras, trocas maiores). Além disso, se a água tem GH muito alto, cada TPA adiciona sais que podem se acumular: imagine 20% de água com GH 20 °dH em um aquário de peixes amazônicos – a cada troca você eleva um pouco o GH geral, contra a preferência dos peixes. Em pouco tempo, sua água “amazônica” vira “africana” em dureza, sem você perceber. Por isso, quem tem água extremante dura deve considerar misturar com água de osmose ou mineral mais leve para manter parâmetros adequados (voltaremos a isso no Cap. 5 e 7).

🔍 Cloro vs. Cloramina – entenda a diferença:
Cloro livre (Cl₂, hipoclorito): desinfetante forte, mata bactérias e protozoários. Na água, forma ácido hipocloroso (HOCl) e íon OCl⁻. Tóxico para peixes já a 0,1 ppm; idealmente aquaristas mantêm 0 ppm. É instável: dissipa espontaneamente em 1–2 dias ou com aeração. Pode ser removido deixando a água “curtir” 24–48h, usando declorador químico, ou filtrando em carvão ativado. Cloramina (NH₂Cl): composto de cloro + amônia, usado em muitos municípios porque persiste por mais tempo na rede. Menos potente que cloro livre na desinfecção, porém mantém ação residual até a caixa d’água do consumidor. Para peixes, é tão ou mais tóxica – não evapora facilmente e não se degrada ao sol ou aeração comum. Precisa ser removida com condicionadores específicos que a quebrem: o processo costuma liberar amônia, então bons produtos convertem essa amônia em amônio (NH₄⁺) menos tóxico temporariamente, até o filtro biológico consumi-la. Resumo: água com cloramina requer SEMPRE tratamento químico (Prime, Safe, etc.), enquanto água só com cloro pode, em emergência, ser deixada em repouso 2 dias (embora o método químico seja mais seguro em ambos os casos). Nunca confie que “deixar descansar” remove cloramina – este é um erro comum e perigoso.

✅ Checklist – Antes de usar água da torneira no aquário:

  • Desclorificação: Utilize um condicionador de água de boa qualidade que remova cloro e cloramina. Dose conforme instruções para todo o volume novo (e um pouco extra se houver cloramina, pois neutralizar 2 mg/L de cloramina requer mais agente). Nunca adicione água não tratada diretamente ao aquário.

Sobre este livro

Como escolher a melhor fonte de água, ler rótulos e controlar parâmetros para aquários estáveis

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