Experimento visual simples: Pegue um copo d’água e dissolva uma colher de chá de sal (NaCl). Deixe o copo descoberto; em poucos dias, a água evapora quase toda, e você verá cristais de sal depositados – o sal ficou. Se agora você completar o copo com água nova e repetir o processo diversas vezes, verá cada vez mais cristais depositados: está ocorrendo acúmulo de sal, pois cada vez entram quantidades novas (da água nova) sem remover completamente o que já estava. No aquário acontece parecido, embora menos óbvio: imagine que a água do seu aquário tem GH 5 e nitrato 20 mg/L. Se evaporarem 5 L de um aquário de 100 L, esses 5 litros de água saem sem nitrato algum, então os 95 L restantes passam a ter nitrato concentrado (~5% a mais, ou seja, 21 mg/L). Se você completar com água da torneira contendo nitrato, digamos 5 mg/L, o volume volta a 100 L e o nitrato final fica ainda um pouco mais alto (~21,5 mg/L). Repetindo esse ciclo todos os dias, o nitrato subirá lentamente. O mesmo vale para GH: evaporou água, a dureza medida nos litros remanescentes sobe ligeiramente; se repor com água dura, acrescenta mais minerais. Por isso, insisto: complete evaporação sempre com água o mais pura possível (RO/DI ou demineralizada). Essa prática zera o risco de acumulação indesejada de dureza e outros solutos não consumidos.
Simulação numérica de acúmulo – TPAs versus evaporação: Vamos quantificar o que foi descrito. Considere nosso modelo de trocas periódicas: C_{t+1} = (1–r)·C_t + r·C_{in} – consumo. Essa fórmula supõe trocas de r% do volume (r em decimal) e eventualmente consumo/remoção biológica de uma fração. Se não houver consumo e não trocarmos água (r=0), C_{t+1} = C_t – ou seja, nada muda (mas nesse caso, na realidade, se não trocamos, a tendência é C aumentar apenas se houver fonte interna – ex.: peixes gerando nitrato – então seria C_{t+1} = C_t + geração). Agora, para evaporação pura: não é exatamente uma “troca” de água, é perda de solvente. 5% do volume evapora, os solutos sobem 5% em concentração. Quando reponho com água pura, volto ao volume inicial, e as concentrações retornam exatamente ao que estavam antes da evaporação (porque não entrou soluto novo). Resultado líquido: evaporação + reposição com água pura não altera concentrações de longo prazo – apenas oscilam temporariamente enquanto baixa o nível. Mas reposição com água não pura faz entrar solutos sem saída equivalente. Podemos tratar reposição como TPA de 0% (já que não removemos nada) somada a uma adição de X substância. Por exemplo, reposição de evaporação com água da torneira = adição contínua de carbonatos, cálcio, etc., sem remoção. O único mecanismo de remoção seria as trocas parciais regulares. Porém, se essas trocas não compensarem a quantidade inserida via reposição, haverá acúmulo. Um caso clássico é aquários marinhos sem sistema de reposição de água doce adequado: se repondessem evaporação com água salgada ao invés de doce, a salinidade aumentaria sem parar. Da mesma forma, repondo evaporação de um plantado com água da torneira, você insere carbonatos continuamente que vão elevando o KH ao longo dos meses – já que plantas e peixes não consomem carbonato tão rápido.
Exemplo ilustrativo (acúmulo de nitrato): No capítulo 1 simulamos nitrato com trocas semanais de 20%. Vamos retomar um trecho da tabela comparativa para ver a diferença entre usar água sem nitrato e água com nitrato para reposição:
| Semana | Nitrato sem plantas (água isenta) | Nitrato sem plantas (água c/ nitrato) |
|---|---|---|
| 0 (início) | 0 mg/L | 5 mg/L (já na água de torneira) |
| 1 | 4,0 mg/L | 6,0 mg/L |
| 4 | 11,8 mg/L | ~14 mg/L |
| 8 | 16,6 mg/L | ~20 mg/L |
| 12 | 18,6 mg/L | ~22 mg/L |
| 20 | 19,8 mg/L | ~24 mg/L |
| Equilíbrio teórico | ~25 mg/L | ~25+5 = 30 mg/L (aprox.) |
Tabela 2: Comparativo teórico da concentração de nitrato ao longo de 20 semanas com trocas de 20% semanais, em um aquário sem plantas, usando água sem nitrato vs. água contendo 5 mg/L de nitrato. Observa-se que com nitrato na água de reposição, o patamar de equilíbrio sobe aproximadamente do valor base da água.
A diferença é clara: a água de reposição com nitrato eleva o “chão” da concentração – acumulando aquele extra gradualmente até o ponto de equilíbrio. O mesmo raciocínio vale para GH ou KH: se sua água de TPA/reposição tem GH 7 e o aquário está a GH 5, aos poucos o GH do aquário subirá em direção a 7 (a não ser que haja algo consumindo Ca/Mg, como muitas plantas fazem em parte ou precipitação química). Isso explica porque, em algumas situações, aquaristas relatam dureza subindo mesmo fazendo trocas de água: possivelmente a água nova é mais dura que a do aquário, ou há reposições de evaporação com água dura. Solução: reposição de evaporação sempre com água mole/pura; se a água de TPA for mais dura que a do aquário e você deseja manter o aquário mais brando, utilize uma mistura com água deionizada para igualar parâmetros (ou aumente volume/frequência das TPAs para evitar acumulativo).
Comentários